Chegamos ao ponto em que a banda existe, já formou um repertório básico, vem ensaiando regularmente, todos estão animados, tocando e cantando bem, e dispostos a ir em frente – conforme o projeto de cada grupo. Está na hora de “ir à luta”: procurar teatros ou bares para tocar, participar de festivais, inscrever-se em circuitos culturais que patrocinam eventos musicais, mostrar o som aos produtores e empresários, enfim – começar a provar, a si mesmos e aos outros, que sua música merece um lugarzinho ao sol. Na prática, isso quer dizer que chegou a hora de gravar um “Video-Demo”, na qual a banda demonstra suas qualidades e com a qual pretende provar que o grupo está realmente pronto para encarar uma carreira profissional.
Hoje em dia existem varias alternativas para esse tipo de coisa, você pode contratar uma produtora para filmar, ir em um estúdio, gravar a Banda ao vivo ou em trilhas separadas, pois editar tudo, refazer o que não ficou tão bom, mixar, masterizar e depois sincronizar os os arquivos de video que tambem terão de ser tratados. Em gravações desse tipo os sons são transformados em códigos eletrônicos digitais binários, que, com a tecnologia empregada hoje, se consegue eliminar praticamente todos os chiados, zumbidos e sons extra-musicais, além de dar um brilho especial aos instrumentos e vozes, e o mais importante: mantendo a qualidade da gravação (coisa que nos velhos tempos numa fita K7 éra impossível).
Aqui não vem ao caso como funciona tal tecnologia, bastando saber que é a “tecnologia de ponta” nessa área. O que conta é que não adianta nem tentar tocar em uma casa noturna ou ir para o youtube sem ter nas mãos uma gravação muito bem feito – não basta mais, neste nosso mundinho de economia capitalista e global, que o conteúdo artístico de uma banda seja bom para que a indústria cultural (isto é, os produtores, influencers, gravadoras que apesar de já estarem mortas e só nos falta enterrar) agenciadores de shows, bares e eventos de todos os tipos festas, etc.) se interesse por algum grupo é imprescindível que a “arte” da banda seja demonstrada com um video de boa qualidade técnica. Podemos dizer que esse video é o cartão de visitas de alguém que está querendo iniciar carreira no mercado profissional de diversões e entretenimento. O CD-demo é um passaporte para a Mídia e só com uma boa gravação de audio você vai poder colocar seu trabalho em alguma plataforma como o spotfy por exemplo.
Não será com uma gravaçãozinha doméstica feita com celular na garagem de sua casa ou em um estudio de ensaio mequetrefe que o som de uma banda se exibirá aos ouvidos de produtores profissionais que estão muito mais interessados na possibilidade comercial do que nas boas intenções de músicos que ninguém conhece. Na verdade,. Esse é o primeiro teste de uma banda: chegar com um uma gravação de qualidade e um video pronto é o mínimo que se espera de gente que afirma ter energia suficiente para encarar uma carreira profissional.
A gravação do seu video-Demo pode ser um período de enorme prazer e alegria, quando a gente vai gravando e escutando e melhorando o som até chegar na mixagem e masterizção, que é a divisão final de tudo que foi registrado em muitos “canais de gravação” para ficar somente com os dois canais L e R (left e right) usados no sistema estereofônico de reprodução. É o momento em que os músicos apertam o “play” para ouvir aquela maravilha de som que se espalha pelo ar, entra por nossas orelhas, chega ao nosso cérebro e volta até nossa pele para arrepiar – porque “o nosso som” finalmente virou um projeto de verdade, e além de lindo é o “nosso som” !
Pode acontecer que, em vez de fazer um video-demo, a gente esteja mesmo é fazendo um “Video do Demo”. Se não se sabe exatamente o que está acontecendo ali, o Demônio vai deitar e rolar com a nossa banda rsrs, e aquilo que poderia (e deveria) ser um prazer acaba em tragédia – ou não é uma verdadeira tragédia que, depois de tanto tempo e energia gastos para montar a banda, a gente perceba que se meteu no modo errado de fazer a coisa e “entrou numa gelada” ?
Muitas bandas acabam junto com seus Videos Demo , porque seus membros ignoravam os itens básicos de uma gravação assim. Vamos então anotar algumas coisinhas que se precisa saber para não “quebrar a cara” na hora H.
É preciso definir criteriosamente as músicas a serem gravadas, deixando de lado o ego dos músicos e decidindo a coisa com base apenas no projeto.
Escolher no máximo 4 músicas (os produtores não tem muito tempo para escutar mais do que isso, só se for uma banda muito eclética (de repertório muito variado como uma banda de baile por exemplo) e precise, por causa disso, mostrar maior número de musicas e estilos.
Entrar no estúdio com tudo pensado em relação aos arranjos, inclusive os solos e mesmo os improvisos (quando for o caso). Tudo pode ser mudado durante as gravações, mas essas modificações só funcionam se houver uma base pensada em detalhe, ou tudo acaba virando uma tremenda confusão, ou o disco acaba não sendo verdadeiramente o “nosso som”, aquele que a gente pensou. Lembrando que as horas estão correndo, e que “hora de estúdio” tem um preço, é melhor evitar ficar compondo coisas na hora de gravar: um estúdio serve para acertar detalhes, não as coisas fundamentais.
Cordas novas e acessórios devem ser providenciados com antecedência, bem como sobressalentes para essas coisas. Também é conveniente nunca esquecer de usar um afinador eletrônico, para ganhar tempo e porque, após algumas horas de gravação, o ouvido da gente começa a ficar “viciado”, distorcendo coisas que podem atrapalhar.
Cuidado com cabos de instrumentos eletrônicos. Há zumbidos que passam desapercebidos na hora de gravar e que só aparecem na hora da mixagem, quando já passou a hora de cuidar disso.
Vozes costumam sair melhor quando gravadas à tarde ou à noite. Os vocalistas, no dia de gravação, devem “economizar” a voz, tratando de falar pouco, não tomar bebidas geladas ou alcoólicas, aquecer convenientemente as pregas vocais antes de começar a cantar, enfim: sendo o mais sutil e “difícil” dos instrumentos, a garganta precisa também de cuidados especiais.
Outro ponto em que se costuma errar, por desconhecimento ou descuido, é o tipo de estúdio realmente adequado a cada propósito. Quanto à qualidade do estúdio e dos técnicos envolvidos, o único jeito de se garantir é saber quais outros trabalhos foram feitos antes ali; conforme o gênero de música e o tipo de gravação desejado, pode-se fazer a escolha com mais certeza de estar usando o melhor para cada finalidade.
Aviso: apesar de serem fundamentais, os equipamentos não fazem milagres; não se deixe impressionar pelo aparato tecnológico disponível, pois há estúdios muito bem equipados que não dispõem de pessoal técnico bastante qualificado para “fazer a mágica” e na medida do possível sempre evite o uso de artifícios para “afinar” a voz como Auto Tune, melodyne e similares. O melhor mesmo é um bom professor de canto e muito estudo pois você não vai querer vender gato por lebre… ou vai?
De modo geral, é melhor trabalhar num estúdio em que os técnicos são também músicos. Outra “dica” que é dada por muitos entendidos: um bom estúdio tem sempre uma boa padaria por perto – talvez porque, naqueles momentos em que a gravação começa a ficar emperrada e o trabalho não está rendendo o melhor jeito é tirar uns 15 minutos para “uma boquinha e umm bom café”. Seja isso verdade ou não, o fato é que há basicamente três tipos de estúdio nos moldes da tecnologia atual.
Estúdio digital. O registro que antes era feito atravez de em gravadores digitais como ADAT ou similares hoje são realizados com computadores então em (gravação em hardware) com softwares como Protools e Logic Audio e outros.
Estúdio análogo. (Para projetos que exijam um som mais vintage) O registro é feito em gravadores “multitrack” (pistas múltiplas) usando fitas magnéticas de rolo.
Estúdio híbrido – A meu ver, e isso é apenas uma opinião pessoal, é o melhor dos mundos e obviamente combinando as duas tecnologias anteriores.
O fato é que pode-se obter bons resultados em qualquer uma dessas formas, de modo que a opção depende de vários fatores e varia de um caso a outro: tipo de música, tipo de instrumentos, finalidade da gravação, etc. O estúdio híbrido, por oferecer combinações das possibilidades análoga e digital, leva vantagem nos casos em que não há uma estratégia definida da gravação ou em que a música sugere explorar as duas formas disponíveis.
Levando em conta as duas coisas principais – qualidade de gravação e tempo de estúdio -, o melhor modo é gravar primeiro o play-back (base instrumental) “ao vivo” (todos juntos) e depois acrescentar os solos instrumentais e as vozes. Claro que isso só vale se a banda estiver bem ensaiada, ou aquilo que se deveria gravar em uma ou duas sessões acaba levando dez, e o orçamento previsto “vai para o brejo”. Convém também lembrar que, além das sessões de gravação propriamente ditas, será gasto um certo número de horas de estúdio para a mixagem (tratamento sonoro das pistas usadas) e masterização. Parece simples? Acredite… Não é! Existem estúdios que trabalham apenas com mixagem e masterização e geralmente são eles que conseguem os melhores resultados.
Por falar em melhores resultados, estes tambem podem ser obtidos (de acordo com o estilo) quando se grava instrumento por instrumento ou, no caso de bandas maiores, grupos pequenos (seções). Isso, é claro, implica em maior número de horas de estúdio e aumenta consideravelmente o custo, mas possibilita ao engenheiro de som trabalhar com cada pista separadamente, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis para “construir” aos poucos o som da música. Seja como for, convém sempre respeitar a opinião do produtor – que é o responsável pela gravação como um todo (Voces tem um produtor experiente com voces? Se não tem saiba que essa pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso) – quanto ao tipo de estúdio, escolha dos microfones e equipamentos, aspectos da mixagem e tal. De novo lembramos que o melhor equipamento não é necessariamente o mais caro ou sofisticado, mas aquele que melhor se adapta ao tipo de som que está sendo gravado.
Não adianta, por exemplo, um guitarrista entrar no estúdio e dizer ao técnico: “eu quero um som igual ao do Steve Vai”; isso não existe!! Ele deve levar seus timbres prontos, previamente pensados e experimentados. Quer o som do Steve Vai? Traga as guitarras que ele usa, os amps, efeitos, e principalmente….A MÃO DO STEVE VAI….RS….para então poder exigir que o registro gravado seja rigorosamente fiel ao som que se ouve no amplificador. Também não adianta encher uma bateria de fita crepe e ficar fazendo mágicas com a equalização dos microfones; é melhor caprichar no caráter acústico do som, afinando bem as peças e tocando com uma boa “pegada”.
Outra coisa importante: a menos que você tenha verdadeiramente mais experiência do que o produtor ou o engenheiro de som, dê os seus palpites, mas deixe para eles as decisões técnicas a menos que você saiba muito bem do que esta falando.
Eles saberão que numa banda de Rock as vozes costumam soar melhor gravadas num determinado Microfoe e não em outro, tipo um microfone valvulado Manley com cápsula de ouro (claro que sempre depende do tipo de voz); quando isso acontecer, não dê muita importância àquela reportagem que você leu na extinta EQ magazine sobre microfones – jornalismo é uma coisa, música é outra, e na prática as teorias costumam ser SEMPRE outra coisa. Nem por isso, quer dizer, por respeito aos técnicos, se deixará todas as decisões por conta deles: o artista deve estar sempre atento para confrontar seu modo “artístico” de ver as coisas com o modo “técnico” do engenheiro de som, dessa simbiose resulta geralmente a melhor parceria para se chegar nos melhores resultados possíveis.
A presença de um produtor representa economia de tempo e dinheiro nos estúdios, bem como uma garantia extra de sucesso no planejamento e realização da demo. Convém lembrar que, após concluída a gravação, a sua banda será conhecida pelas características do som que será ouvido pelos empresários e todos aqueles que recebem esse material. Assim como há estilos de música, há também estilos de sonoridade, e esse é o estilo criado pelos técnicos. Com a gravação, você começou a construir uma imagem que, para ser mudada ou desfeita, implica em refazer todo o processo desde o início; é isso que faz de uma simples gravaçãozinha uma questão de vida ou morte – a vida ou a morte da carreira da banda, que é também uma parte da vida dos músicos envolvidos.
Conhecimento técnico e musical a gente adquire com o tempo. Mas, para não ficar 10 ou 15 anos esperando a hora certa de gravar, pode-se usar o bom-senso de planejar as coisas nos detalhes possíveis. É aí que uma boa consultoria com um produtor experiente pode ajudar muito a definir coisas relacionadas ao estilo e proposta da banda, garantindo que o material produzido possa ser utilizado por um bom tempo sem perder atualidade.
Chiquinho Frajola