A Antiguidade
Como as primeiras manifestações musicais não deixaram vestígios, é praticamente impossível dizer qual a data exata do nascimento da música. Alguns estudiosos nem tentam; outros enfrentam o problema com base naquilo que se sabe sobre a vida humana na Pré- história e preenchem as lacunas com certa dose de imaginação. Mas nenhuma hipótese diz com exatidão o momento em que os primitivos começaram a fazer arte com os sons.

Ao que parece, o homem das cavernas dava à sua música um sentido religioso. Considerava-a um presente dos deuses e atribuía-lhe funções mágicas. Associada à dança, ela assumia um caráter de ritual, pelo qual as tribos reverenciavam o Desconhecido, agradecendo-lhe a abundância da caça, a fertilidade da terra e dos homens. Com o ritmo criado – batendo as mãos e os pés -, eles buscavam também celebrar fatos da sua realidade: vitórias na guerra, descobertas surpreendentes. Mais tarde, em vez de usar só as mãos e os pés, passaram a ritmar suas danças com pancadas na madeira, primeiro simples e depois trabalhadas para soarem de formas diferentes. Surgia, assim, o instrumento de percussão.

Os barulhos da natureza deviam fascinar o homem desses tempos, dando-lhe vontade de imitar o sopro do vento, o ruído das águas, o canto dos pássaros. Mas, para isto, o ritmo não bastava, e o artesanato ainda não permitia a invenção de instrumentos melódicos. De modo que estranhos sons tirados da garganta devem ter constituído uma forma rudimentar de canto, que, junto com o ritmo, resultou na mistura de palmas e roncos, pulos e uivos, batidas e berros. Era o que estava ao alcance do homem primitivo. E terá sido um estilo que resistiu a séculos.

Contudo, segundo os atuais conceitos de música, essas tentativas de expressão foram demasiadamente pobres para se enquadrarem na categoria de arte musical. Mas, do ponto de vista histórico, elas tiveram uma importância enorme. Porque a sua rítmica elementar acompanhou o homem à medida que este se espalhava sobre a Terra, formando culturas e civilizações. e evoluiu com ele, refletindo todas as transformações que a humanidade viveu até chegar a ser como é agora.

OS PRIMEIROS ELEMENTOS
A noção que hoje se tem da música como “uma organização temporal de sons e silêncios” não é nova. Civilizações muito antigas já se aproximaram dela, descobrindo os elementos musicais e ordenando-os de maneira sistematizada. Os historiadores têm encontrado inscrições as quais indicam que um caráter nitidamente ritualístico impregnava a maior parte da criação musical da Antiguidade.

Por muito tempo as formas instrumentais permaneceram subdesenvolvidas. Predominava a música vocal. Essa forma, adicionando à música o reforço das palavras, era mais comunicativa e as pessoas assimilavam-na melhor. Assim se explica o grande desenvolvimento que atingiu entre os antigos.

Os povos de origem semita cultivavam a expressão musical, tornando-a bastante elaborada. Os que habitavam a Arábia, principalmente, distinguiram-se pela criatividade. Possuíam uma ampla variedade de instrumentos e dominavam diferentes escalas. Segundo parece, tocavam sobretudo para dançar, pois foi entre eles que surgiu a “Suíte de Danças”, um gênero que sobrevive ainda hoje.

A Bíblia mostra que também os judeus tinham a música como hábito. Davi fala sobre ela nos “Salmos”, e diversas outras passagens bíblicas contêm menções a respeito.

Na China, o peculiar era a própria música, devido à sua monumentalidade. Os chineses utilizavam nada menos que 84 escalas (o sistema tradicional da música ocidental dispunha de apenas 24). a variedade da sua instrumentação era imensa. E já por volta do ano 2255 a.C. o domínio sobre a expressão musical atingia tal perfeição entre eles, que sua influência se estendia por todo o Oriente, moldando a música do Japão, da Birmânia, da Tailândia e de Java.

A LIRA E A LÍRICA NA GRÉCIA
Mas indiscutivelmente, foram os gregos que estabeleceram as bases para a cultura musical do Ocidente. A própria palavra música nasceu na Grécia, onde “Mousikê” significa “A Arte das Musas”, abrangendo também a poesia e a dança. O ritmo era o denominador comum das três artes, fundindo-as numa só. Dessa forma a Lírica era um gênero poético, mas seu traço principal era a melodia e até seu nome deriva de um instrumento musical – a Lira. como os demais povos antigos os gregos atribuíam aos deuses sua música, definindo-a como uma criação integral do espírito, um meio de alcançar a perfeição.

Seu sistema musical apoiava-se numa escala elementar de quatro sons – o Tetracorde. Da união de dois tetracordes formaram-se escalas de oito notas, cuja riqueza sonora já permitia traçar linhas melódicas. Estas escalas mais amplas – os Modos – tornaram o sistema musical grego conhecido posteriormente como Modal.

O canto prendia-se a uma melodia simples, a Monodia, pois os músicos da Grécia ignoravam as combinações simultâneas de sons (harmonias). Mas nem por isso deixavam de caracterizar com seus Modos um sentido moral – o Ethos -, tornando os ritmos sensuais, religiosos, guerreiros, e assim por diante.

Uma vez que os ritos religioso quase não mudavam, conservando a tradição, com o tempo criaram-se melodias-padrão, muito fáceis e conhecidas de todos. Eram os Nomoi, cujo acompanhamento se fazia com a Cítara e o Aulos. A cítara descendia da lira e, como ela, tinha cordas. O aulos era um instrumento de sopro, ancestral do nosso oboé.

Partindo dos Nomoi, a música da Grécia evoluiu para a lírica solista, o canto conjunto e o solo instrumental. Depois, vieram as grandes tragédias inteiramente cantadas, que marcaram o apogeu da civilização helênica (do século VI ao século IV a.C.).

Daí por diante, a decadência do povo encaminhou a música da Grécia para o individualismo e o culto às aparências. Parecendo prever a dominação que lhes seria imposta pelos romanos, os gregos ironizavam a sua própria destruição.

EM ROMA, A ARTE DA CÓPIA
A cultura dos romanos era muito menor do que o seu poderio, de maneira que a conquista da Grécia lhes veio bem a calhar: a avançada civilização grega oferecia-lhes tudo o que não tinham em ciência, arte e refinamento.

Recolhendo os melhores elementos do patrimônio grego, trataram de copiá-los com capricho e depois apresentaram-nos como produto próprio entre os demais povos que tinham sob domínio. Mas não foram muito além desse trabalho de divulgação.

Particularmente no caso da música, Roma quase nada acrescentou àquilo que se havia desenvolvido na Grécia. Sua contribuição ao progresso musical destacou-se, contudo, pela invenção de alguns instrumentos como a Tíbia (uma espécie de gaita-de-foles), a Tuba (precursora do trombone) e um órgão primitivo, provavelmente hidráulico ou pneumático. Entretanto, parece que esse órgão não era original. Alguns pesquisadores afirmam que um egípcio chamado Ctesíbio já havia criado um aparelho do mesmo tipo dois ou três séculos antes da era cristã.

Idade Média
MELODIA – UM INSTRUMENTO DE FÉ

O cristianismo mostrou ao homem um mundo interior que ele desconhecia, e essa revelação transformou a sua visão de si mesmo, bem como a sua posição face às coisas.

Movidos por esse novo modo de ser, os primeiros cristãos desenvolveram sua própria arte com o objetivo de exteriorizar não somente sensações, mas sentimentos de integração religiosa. Esta ideologia que se generalizou nos séculos iniciais da Idade Média foi a causa de origem da monodia cristã.

Os Hinos e Cânticos da nova concepção musical inspiravam-se nos Salmos da Bíblia. Solo e Coro, ou Coros alternados, dialogavam nas orações musicadas, sendo que a participação de um dos grupos vocais às vezes não ia além dos “aleluias” e “améns” que marcavam o fim de cada passagem.

Aos poucos, formaram-se artistas profissionais que aperfeiçoaram o canto das melodias. A princípio, dividiram o texto em sílabas, atribuindo apenas um som a cada uma delas (canto silábico). Mais tarde, por influência da música oriental, as sílabas já reuniam vários sons, enriquecendo-se com um ornamento vocal (melisma).

Os grandes centros da Igreja – Bizâncio, Roma, Antioquia e Jerusalém – eram também os grandes centros da música, cada qual com sua liturgia musical particular.

No século IV, em Milão, Santo Ambrósio criou um estilo que tomou o seu nome – ambrosiano. Na mesma época, Santo Hilário compunha na França uma música de características diferentes – o chamado estilo galicano. E três séculos depois, na Espanha, Santo Isidoro seguiria uma terceira tendência – o estilo moçárabe.

Contudo, foi em Roma que se estabeleceram os padrões que deram ao canto litúrgico da Igreja Romana uma forma fixa. Quem os organizou foi o fundador da Schola Cantorum, Papa Gregório Magno – o que explica o nome de Canto Gregoriano com o qual se tornou conhecido esse gênero musical. Caracterizava-se por uma melodia linear e plana – o “cantus planus”. Por isso chamam-no também, mais tarde, de cantochão.

“ARS ANTIQUA” – ANTIGA SÓ NO NOME
Ao longo dos séculos e sob a influência de novas maneiras de cantar, o Gregoriano se modificou, mas conservando o seu caráter monódico, uma vez que ele favorecia a concentração religiosa. No século XIII, certos contracantos clandestinos se infiltraram na melodia tradicional, subvertendo a liturgia que fixava os Tons da Igreja. Com reprovação, os religiosos viram também que sua música começava a denotar traços da criação musical erudita que se cultivava nos castelos e até das canções populares dos aldeões.

Livre da rigidez litúrgica, esta música profana que podia reunir várias melodias no mesmo canto era uma escapada na direção da polifonia. E o povo, ajudado pelos trovadores, acabaria impondo sua fusão com o canto tradicional.

Apesar de todos os progressos feitos no campo musical durante esse período, a História registrou-o com o nome de “Ars Antiqua”. Na verdade, ao fim do século a música já era uma arte nova.

Grande parte dos avanços da “Ars Antiqua” deve ser atribuída ao Mestrre Leoninus e a seu aluno, Perotinus, que trabalhavam na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Mas, esses dois compositores, assim como outros da Idade Média, não puderam ir muito longe, tolhidos pela precariedade dos meios de escrita musical. Havia sistemas de notação, mas eram ruins.

O primeiro que apareceu baseava-se no alfabeto: as sete primeiras letras representavam os sete sons da escala, começando pela nota lá. Depois, criaram-se os neumas, sinais oriundos dos acentos grave, agudo, circunflexo, e do ponto. Porém, a notação neumática tinha o defeito de não indicar a altura nem a duração dos sons. Melhor que ela, era o método do monge Guido d’Arezzo (995-1050), que adotou uma pauta de quatro linhas e definiu as claves de fá e dó para registrar a altura dos sons. Além disso, d’Arezzo deu nome às notas, tirando as sílabas iniciais de um hino a São João Batista:

Ut queant laxis Para que possam
REsonare fibris ressoar as maravilhas
MIra gestorum de teus feitos
FAmuli tuorum com largos cantos
SOLve polluti apaga os erros
LAbii reatum dos lábios manchados
Sancte Ioannes. Ó São João.

(O UT mais tarde passou a chamar-se DÓ. Mas não se sabe quem o batizou, assim como se ignora quem foi o padrinho do SI.) O Mensuralismo, inventado por Walter Oddington e Franco de Colônia no século XII, também ajudou a evoluir a técnica musical. Era um sistema que permitia medir o tempo sonoro, determinando uma duração especifica para cada nota (breve, semibreve, mínima, semínima, colcheia, semicolcheia, fusa, semifusa, quartifusa).

A NOVIDADE DA “ARS NOVA”

Quando nasceu, na França, a polifonia erudita consistia numa forma bastante simples de tirar efeito de um som contra outro. Mas esse jogo de “punctus contra punctus” – o contraponto – facilitou a criação de novas formas vocais, como o Motete, o Conducto e o Rondó. Era uma música diferente que se articulava. Receberia o nome de Ars Nova.

O grande teórico da Ars Nova foi o Bispo Filipe de Vitry. Entretanto muitos outros também cuidaram de dar precisão matemática às regras do canto coral, tornando já conscientes certas combinações harmônicas.

Sem poder competir com as inovações da música profana, o canto católico se encerrou nas igrejas. Esse recolhimento não o prejudicou: ao contrário, foi a partir de então que ele se desenvolveu numa forma de expressão litúrgica, a Missa. Graças a ela, ganharam evidência os organistas e mestres de capela. E ganhou celebridade um compositor – Guillaume de Machaut (1310-1377). Poeta da corte francesa de Carlos V, criador de cantigas e baladas profanas, Machaut escreveu a Missa da Sagração, que é considerada até hoje uma obra-prima.

Contudo, o verdadeiro espírito da Ars Nova do século XIV se revela é na fusão da música erudita com a popular.

Compositores também notáveis desse período foram Jacopo da Bologna, Gherardello da Firenze, Witzlav von Ruegen, Francesco Landino, Giovanni da Cascia, Jean de Grouchy, Jean de Garlande e Johannes Ciconia.

História da Música
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Renascimento
ESMERO DAS FORMAS VOCAIS
Um conceito já inteiramente abstrato de música orientava a invenção dos mestres franco-flamengos, que foram os pioneiros do estilo renascentista. Chegavam a compor para 36 vozes paralelas, num verdadeiro malabarismo contrapontístico. A virtuosidade era praticamente uma norma seguida por essa escola na qual se destacaram Guillaume Dufay (1400-1474) e Johannes Ockeghem (1430-1496). E a virtuosidade foi levada a um ponto muito alto por Josquin des Prés (1445-1521), o mais brilhante de todos os flamengos.

No clima da Renascença, a polifonia católica passava das igrejas para os salões da aristocracia. Os reformistas protestantes faziam o oposto, indo buscar entre o povo os seus temas musicais. Enquanto isso, os flamengos percorriam a Europa propagando o seu estilo, que fez nascer vários gêneros de canção (chanson, song e lied). Na França, Clément Janequin (1480-1558) não foi o único a sofrer a influência flamenga. Na Inglaterra, também, a escola dos virtuoses conquistou seguidores como William Byrd (1543-1623). O compositor Orlando de Lassus (1531-1594) viveu em vários países, de modo que é difícil saber onde conheceu a música dos flamengos. Mas não há dúvida de que ela transparece em suas obras, cuja expressividade sugere a crise espiritual do seu tempo.

Gioseffe Zarlino (1517-1590) formulou as noções básicas da Tríade Tonal, estabelecendo que a tônica, a dominante e a subdominante seriam, respectivamente, a primeira, a quinta e a quarta notas de um certo tipo de escala. Essa invenção teórica trouxe novos recursos à música.

Por seu sabor popular, o canto protestante passava à frente da liturgia católica e a inquietação da Igreja ante esse fato se mostrou no Concílio de Trento (1563), quando os jesuítas esboçaram uma tentativa de revitalizar a sua música. No entanto, esbarraram com um obstáculo sério: as normas canônicas interditavam o acesso ao estilo flamengo, alegando que este confundia o texto religioso. O impasse permaneceu até que Giovanni da Palestrina (1525-1594) encontrou uma solução hábil: Se o texto era o dilema, restava o recurso de dar mais destaque às palavras para ressaltar na música as emoções sugeridas por ele. Assim, eliminou o acompanhamento instrumental, criando composições “a capela”, isto é, dedicadas exclusivamente à voz humana.

Mas, no auge da expressividade renascentista, o desejo de atingir o grandioso exigiu de novo a participação do acompanhamento instrumental. As explorações de Andrea Gabrieli (1510-1586) no sentido de usá-lo como apoio à música de vários coros levaram seu sobrinho Giovanni Gabrieli (1557-1612) a enveredar pelo mesmo rumo. Em obras monumentais, Giovanni acrescentou instrumentação à sua policoralidade.

Barroco
A ÓPERA BARROCA
A Renascença transformara a mentalidade européia, mudando radicalmente as suas concepções. Divindade: em seu lugar, agora estava o Homem. Reviviam os ideais artísticos da Antiguidade Clássica.

A música do período Barroco acusou as conseqüências desse novo espírito. Os grandes coros polifônicos foram gradualmente substituídos pelo canto individual (homofonia) com acompanhamento instrumental. Buscava-se centralizar na voz de um único cantor a comunicabilidade musical. Em conseqüência, tornou-se hábito apoiar o cantor com os acordes de um instrumento (baixo contínuo). Era a melodia acompanhada.

Outro sinal da mudança dos tempos foi o retorno às grandes tragédias gregas cantadas, que conduziria, em seguida, ao desenvolvimento da ópera na Itália.

Paradoxalmente, esse gênero que refletia a vida opulenta dos burgueses ricos das cidades italianas desfrutou desde o início de uma grande popularidade. A Eurídece que Jacopo Peri (1561-1633) e Giulio Caccini (1550-1618) escreveram no ano de abertura do século XVII fez tanto sucesso que provocou seguidores. Claudio Monteverdi (1567-1643) é dessa época; contudo, foi mais além. Queria originalidade e a obteve, introduzindo na ópera a orquestra, dinamizando a sua harmonia com acordes avançados para a época, e aperfeiçoando o Melodrama, que se tornaria uma característica básica do gênero.

A revolução monteverdiana estendeu-se ao resto do continente, inspirando a formação de grandes mestres do Barroco, como o alemão Heinrich Schütz (1585-1672) e o ítalo-francês Jean Baptiste Lully (1658-1695) também usou as inovações de Monteverdi para criar as suas Trio-Sonatas. Com duas partes agudas e uma grave, esse gênero foi um percussor da prodigiosa música instrumental do século seguinte.

O REFINADO ROCOCÓ
Em sua expansão, a ópera barroca invadiu os domínios da música sacra, absorvendo o caráter teatral dos Dramas Litúrgicos, que encenavam a Paixão de Cristo e outros episódios das Escrituras. A isto seguiu-se o aparecimento de uma curiosa classe de cantores, preparados desde a infância para terem uma aguda voz feminina – os castrati. E o traço cômico dado por eles ao estilo operístico foi o fator que influenciou o surgimento da opera buffa, marcada por um teor nitidamente satírico, ironizando tanto a Igreja como os costumes da vida mundana. Apesar da sua novidade, porém, a ópera buffa preservava a característica primordial do barroco – a melodia individual.

Nesse mesmo período o progresso do artesanato de instrumentos permitia a formação dos primeiros virtuosi, que levaram a música instrumental até os salões da nobreza. Tornaram-se então comuns as Orquestras de Câmara (conjuntos de poucos intérpretes) e o Concerto Grosso, o mais genuíno produto da criação barroca. No Concerto Grosso, diversos instrumentos disputavam prevalência com a orquestra, em vez de um só, como acontece no concerto tradicional.

A Sonata da Camera (sonata de câmara) transformou-se nessa época numa verdadeira suíte de danças, distinguindo-se da Sonata da Chiesa, (ancestral da Sonata Clássica tocada apenas por piano, violino ou violoncelo).

O grande vigor assumido pela música instrumental se explica, sobretudo, pelos talentos excepcionais que se dedicaram a ela. Um deles foi Arcangelo Corelli (1653-1713), violinista e compositor, tanto religioso como profano. Outro foi Antonio Vivaldi (1678-1741), criador de uma vasta obra profana, principalmente violinística. Georg Philip Teleman (1681-1767) demonstrou preferência pelos instrumentos de sôpro, tendo criado para eles um grande número de peças notáveis. Domenico Scarlatti (1685-1757) escreveu para cravo e, assim como os franceses Jean-Philipe Rameau (1683-1764) e François Couperin (1668-1773), caracterizou sua obra com traços do estilo galante ou Rococó

O APOGEU DO BARROCO
Georg Friederich Händel e Johann Sebastian Bach tinham muito em comum. Ambos nasceram em 1685, eram alemães e protestantes. Ambos dominavam magnificamente a arte da composição, criando peças em quase todos os gêneros da música vocal e instrumental. Ambos deram vida nova à polifonia que havia sido abandonada. E ambos conduziram o estilo barroco ao apogeu.

Com a invenção da fuga tonal, Bach revolucionou o sistema musical vigente, que era baseado em intervalos sonoros desiguais. Seu Sistema Temperado veio a possibilitar intervalos sempre iguais entre notas, igualando todos os semitons. O primeiro volume do Cravo Bem Temperado foi publicado em 1722, o mesmo ano em que surgiu o Tratado de Harmonia de Rameau. Os dois acontecimentos, em conseqüência, efetivaram a nova ordem tonal, anunciando grandes períodos.

Classicismo
FORMA – O IDEAL CLÁSSICO
No decorrer do século XVIII, realizou-se plenamente aquilo a que os últimos compositores barrocos já aspiravam: a criação de uma arte abstrata.

Os classicistas não pretendiam que sua música fosse linguagem para cantar a religião, o amor, o trabalho, ou qualquer coisa. Buscavam dar-lhe pureza total, a fim de que o mero ato de ouvi-la bastasse para dar prazer. A perfeição da forma era o seu ideal estético. A abstração completa era o meio que viam para atingi-lo. E essa abstração eles obtiveram desenvolvendo a Sonata Clássica (ou Sonata-forma) e a Sinfonia.

Muito antes do Classicismo, Domenico Scarlatti já havia esboçado as linhas gerais da sonata. Mas foram dois filhos de Bach – Johann Christian e Carl Philipp Emanuel – que a fizeram chegar à maturidade como gênero musical.

A sinfonia, por sua vez, também fôra esboçada por um Scarlatti: o pai de Domenico, Alessandro (1660-1725). Este elaborara o gênero denominado Abertura italiana, dando-lhe um movimento dançante extraído da suíte, o minueto. Por fim, os músicos da Escola de Mannheim na Alemanha, aperfeiçoaram o trabalho de Stamitz, completando a formulação do gênero sinfônico.

O compositor mais representativo do espírito classicista foi Joseph Haydn (1732-1809), autor de uma obra vastíssima, na qual as possibilidades muisicais da sinfonia foram exploradas com grande riqueza inventiva. Grande destaque tiveram também François Gossec (1734-1829) e Ludwig Spohr (1784-1859).

A ÓPERA SÉRIA
A ópera dos palcos europeus conservava-se presa aos padrões da ópera cômica napolitana desde o momento em que Alessandro Scarlatti fizera predominar a força emocional do texto sobre a música de teatro, que foi um foco da atenção dos classicistas.

Cansados desse “bel-canto” complicado e obsoleto, alguns compositores decidiram renová-lo, voltando “ao natural” no gesto, na palavra e, em especial, na melodia. Em vez de sentimentalismo, desejavam uma síntese verdadeira do sentimento humano.

A iniciativa do trabalho de tornar séria a ópera coube a Christoph W. Gluck (1714-1787). Era mestre em Viena, na corte da Imperatriz Maria Teresa. Mas foi em Paris que ele promoveu a reforma do drama musical.

A refinada corte francesa do século XVIII se dividia em dois grupos antagônicos. De um lado se punham os partidários da ópera cômica; do outro ficavam os apreciadores de Rameau, que procurara manter uma dramaticidade equilibrada em suas composições.

Orfeu e Eurídice de Gluck, surgiu em 1762, ou seja, dois anos antes da morte de Rameau. Nela não se podiam apontar virtuosismos vazios. Era despojada de tudo aquilo que agradava aos “bufões”.

Os entusiastas do seu rival Nicolò Piccinni (1728-1800) lhe moveram guerra, mas sem sucesso. O caminho aberto por Gluck passou a ser seguido por outros, como Cherubini (1760-1842), Spontini (1774-1851), Méhul (1763-1817) e Salieri (1750-1825). Um futuro brilhante se delineava para a ópera.

MOZART – ARTE EM CONTROVÉRSIA
O classicismo já estava maduro quando se destacou no cenário musical a figura de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), cuja obra é considerada por alguns como a mais clássica de todo o século XVIII.

Sobre Mozart, porém as opiniões variam muito. Seus admiradores qualificam-no pura e simplesmente como “universal”. Já os musicólogos e historiadores destacam o caráter nitidamente vienense de sua música. De fato, a alegria às vezes melancólica das composições mozartianas identifica-se com o folclore de Viena, no qual se supõe haver o compositor buscado inspiração.

Em sua época, manifestava-se ainda o estilo Rococó e parte da criação musical que ele deixou denota traços desse estilo. Entretanto, muitas das suas peças, em especial as últimas, antecipam a música que depois surgiria com Beethoven.

Uma personalidade musical complexa – talvez seja esta a melhor maneira de definir Mozart. Nasceu na Áustria e foi um gênio precoce, que desde pequeno se revelou virtuose do piano. Seu poderoso talento criador dava-lhe um expressão versátil. Escreveu com a mesma desenvoltura gêneros instrumentais e vocais, criando uma obra que só não foi mais extensa devido à sua morte prematura.

A MÚSICA EM TRANSIÇÃO – BEETHOVEN
Entre o fim do século XVIII e o começo do século XIX, o rígido formalismo clássico estava em declínio, sem que, no entanto, nenhum outro estilo se pusesse à vista. Mozart sugeria novas concepções, mas morreu muito cedo, sem chegar a enquadrá-las numa tendência definida. Uma espécie de expectativa reinava no campo musical. Era a fase hoje chamada pré-romântica, na qual a obra de Ludwig van Beethoven (1770-1827) causaria um tremendo impacto, dando a música maior energia.

Beethoven se considerava “O Napoleão da Música”, e com razão. Indiscutivelmente, era único. Foi o primeiro compositor a impor condições aos editores, numa desafiadora afirmação da sua individualidade. O racionalismo do século XVIII não afinava com a sua natureza e ele o deixou gradativamente de lado para compor com liberdade, dando plena vazão ao seu temperamento impulsivo e violento, mas também sonhador e bucólico.

A ordem classicista estabelecia que o desenvolvimento de um tema sinfônico devia conter um ponto de partida, criar uma tensão e depois aliviá-la com um afrouxamento. Haydn e Mozart haviam assim composto. Outros músicos continuavam a fazê-lo, mas Beethoven não se importou em ser o primeiro a romper com a tradição. Rebelando-se contra ela, subverteu-a já em 1800, com sua 1ª Sinfonia, que fez principiar em tensão. E mais: em vez de minueto, o compositor deu ao terceiro movimento uma forma aproximada à do scherzo, embora conservando aquela nomenclatura . Suas nove Sinfonias são consideradas insuperáveis.

A contradição esteve presente na vida e no trabalho de Beethoven. O grande inconformado que afrontava o Classicismo compunha também sonatas clássicas, as quais, por sinal, se tornaram célebres. Porém, no conjunto da sua obra, o mestre alemão foi coerente. Deixou clara a superação do refinamento do velho Classicismo, denunciando o fim da aristocracia e apontando o romântico mundo novo que estava pela frente.

A obra de Beethoven iria proporcionar a seus pósteros o modelo decisivo das reformas.

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Romantismo
ROMANTISMO – A LIBERDADE DE CRIAR
A Revolução Francesa não mudou apenas o regime político da França. Abalou a Europa inteira e repercutiu em todo o mundo, sob a forma de um surto de liberalismo. Nos primeiros anos do século XIX, os Direitos do Homem, a democracia e a liberdade de expressão tomavam conta da mentalidade européia, modificando os seus critérios de valor. Por toda parte o espírito religioso passava a um plano de fundo. Por toda parte a arte se desligava das amarras do passado. E pouco a pouco a música deixava os salões, pondo-se ao alcance do povo, apresentada nas casas de concerto. Os compositores passaram a colorir suas peças com produtos da cultura popular, mas o subjetivismo se impôs como a principal característica da música Romântica. A estilização ganhou um ar de defeito: diminuía a força da expressão individual.

Paganini (1782-1840) encarnava bem essa nova ideologia artística, colocando em destaque a sua figura estranhamente feia para enfatizar o seu virtuosismo “diabólico”. Em seus seiscentos lieder, Schubert (1797-1828) expunha a sua natureza terna e delicada. Mendelssohn (1809-1847) contava através da música as suas impressões de viagem, nas sinfonias Italiana e Escocesa.

Na Itália, a ópera aderiu ao Romantismo e, conseqüentemente, teve que reformar os padrões de interpretação até então vigentes. Agora, o cantor tinha que se dar inteiramente ao público e empolgá-lo também por seu próprio talento teatral.

Profundamente influenciados por textos literários, rossini (1792-1868), Bellini (1801-1835) e Donizetti (1797-1848) tornaram-se os senhores da criação operística romântica, que logo cruzou as fronteiras italianas e se popularizou em outros países. No entanto, as guerras contra Napoleão parecem ter exacerbado a consciência nacional dos povos europeus, levando-os à busca de formas próprias.

A primeira reação à música lírica da Itália partiu de Carl maria von Weber (1786-1826), que germanizou a ópera, inspirando-se na época medieval e na mitologia da Alemanha. Seu herdeiro seria Richard Wagner (1813-1883), que, em busca de “uma obra de arte integral”, criou o Drama Musical. Este reunia a pintura, a poesia e a arquitetura, além da música. Mas, não contente com um drama isolado, Wagner compôs então uma Tetralogia (conjunto de quatro dramas). As suas experiências no campo tonal deram à obra wagneriana uma tal originalidade que se criou para os demais compositores românticos um problema: ou seguiam Wagner ou lutavam contra ele.

Na França, Giacomo Meyerbeer (1791-1864) optou pela criação monumental, desenvolvendo a Grande Ópera. Jacques Offenbach (1819-1880) preferiu a leveza e criou a Opereta.

O realismo e a intensa força dramática das óperas do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) celebrizaram-no em pouco tempo e sua influência estendeu-se a músicos românticos de todo o mundo. Carlos Gomes (1836-1896) foi um deles.

O NACIONALISMO ROMÂNTICO
Durante muito tempo a Europa vivera sob a influência da música da Itália, que só foi atenuada pelo barroco de Händel e Bach. A ópera romântica de Weber e o drama musical de Wagner eliminaram esse monopólio italiano. Mas em compensação criou-se outro na Alemanha, pelo fato de traçar as linhas mestras que orientavam o Romantismo.

Em Paris, onde se refugiara da ameaça do czarismo russo, o polonês Frédiric Chopin (1810-1849) ganhou fama tocando ao piano as mazurcas e polonaises que compunha, numa evocação dos ritmos típicos de sua terra.

Por volta da mesma época, um prodigioso pianista húngaro chamado Franz Liszt (1811-1886) percorria o continente encantando as platéias com a agilidade rítmica das suas Rapsódias Húngaras. Inspirado pela brilhante arte orquestral do seu contemporâneo Hector Berlioz (1803-1869), introduziu o Poema Sinfônico, cujas liberdades de forma o levaram a um dos primeiros planos no panorama romântico.

Na Rússia, Michail Glinka (1804-1857) liderou um movimento nacionalista que originou o famoso Grupo dos Cinco – Rimsky-Korsakov (1834-1908), Cesar Cui (1835-1918), Balakriev (1837-1910), Borodin (1833-1887) e Moussorgsky (1839-1881). Afastando-se da música ocidental, esses imaginosos autodidatas buscaram deixar de lado o sistema tonal tradicional para cultuar os exóticos sons modais da música sacra eslava e do folclore russo.

Pyotr Ilitch Tchaikowsky (1840-1893) também buscou dar à música da Rússia uma expressão autêntica. Mas fêz o contrário dos “Cinco”, assimilando da música ocidental de Mozart, Berlioz, Liszt e Délibes muitos elementos que fundiu com os do patrimônio cultural russo nas suas composições.

A Tchecoslováquia teve dois representantes notáveis do romantismo nacionalista: Bedrich Smetana (1824-1884) e Antón Dvorak (1841-1904). Na Noruega, foi durante esse período que surgiu o maior dos seus compositores: Edvard Grieg (1843-1907). O mesmo ocorreu na Finlândia com Jan Sibelius (1865-1957), considerado o expoente máximo da música naquele país.

O exotismo e a riqueza dessa música de raízes folclóricas foram sem dúvida fatores importantes para a elevação do Romantimo ao seu nível mais alto. E a reação de Johannes Brahms fôra romântico quando jovem, mas a obra de Bach mudou-lhe as idéias, tornando-o um antiwagneriano ferreno, na maturidade.

Outro notável compositor do Romantismo foi o belga César Franck (1822-1890), criador da forma cíclica, pela qual constrói uma obra inteira, baseando-se num único tema. Vicent D’Indy (1851-1931), Chabrier (1841-1894) e Fauré (1845-1924) fizeram evoluir as concepções do mestre em obras marcadas pela irregularidade intencional de ritmo e harmonia, as quais já preludiavam o fim do Romantismo.

IMPRESSIONISMO – ARTE E SUGESTÃO
Em 1900, a música européia se viu em choque. O longo debate entre wagnerianos e não wagnerianos resultara em impasse. Questionavam-se a possibilidade de criar algo realmente novo dentro do sistema tonal, já tão explorado. Por tentarem encontrar uma saída, os alemães Gustav Mahler (1860-1911) e Richard Strauss (1864-1949) foram considerados “ultramodernos”.

O russo Aleksander Scriabin (1872-1915) também buscava soluções. Os acordes da harmonia convencional lhe pareciam gastos demais. Idealizava uma música que “exalasse cheiro”, “provocasse visões” e “sugerisse côres”.

Enquanto isso, quase ignorado por seus contemporâneos, Claude Debussy (1862-1918) resolvia o problema com uma concepção musical nova: O Impressonismo. Estéticamente, Debussy visava a uma arte de nuanças, que sugerisse em vez de descrever. Para realizá-la, desenvolveu uma técnica que consistia em explorar o encadeamento de acordes, os quais sugeriam várias tonalidades. Seu contemporâneo Maurice Ravel (1875-1937) não foi menos extraordinário. A obra que compôs – para piano, canto ou orquestra – revela traços impressionistas. Contudo, Ravel está mais próximo de Chabrier pela estética rigorosamente mantida no decorrer de seus trabalhos e à qual limitou sua prodigiosa inspiração. Enquanto isto, uma nova onda nacionalista se desencadeava em toda a Europa.

Na Rússia, surgiram Proskofieff (1891-1953), Shostakovitch (1906), Kabalevsky (1904) e o armênio Khatchaturian (1903); na Espanha, Albéniz (1860-1909), Granados (1867-1916) e De Falla (1876-1946); na Itália, Respighi (1879-1936); e na Tchecoslováquia, Janacek (1854-1928).

 

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