Hoje falarei sobre a importância da letra numa obra musical. Para ser bem sincero, prefiro música instrumental pelo simples fato de conseguir entender o sentimento do instrumentista e penso que esta comunicação melódica e harmônica realmente é mais humana e verdadeira do que tentar passar uma idéia através de letras (o que as vezes se torna desastroso). Vou provar.

Só para ilustrar, prefiro escutar Joe Satriani a tocar a balada romântica “Always With Me, Always With You”, do que quaisquer outros barbitúricos textuais new-bregas de sertanejos, breganejos, forrozeiros, pagodeiros apaixonados e Pornofunkdebandido e que fazem o mesmo efeito do chá-de-boldo naquela indigestão de feijoada no sábado a tarde.

É impressionante como existem músicas maravilhosas no sentido harmônico e melódico e na parte textual, a coisa vai de mal a pior. Vide a música pop americana; grandes produções, grandes talentos, músicas belíssimas, mas na hora da letra…uma apelação.

Aqui no Brasil somos campeões mundiais da apelação comunicativa na música, cada absurdo. Vamos começar pelo pagode. Neste ritmo brasileiro, ou o cantor está apaixonado e a morrer de saudade da amada ou tomou um belo fora e chora as pitangas, as mangas, as mandiocas, as abóboras e as carambolas, bailando aquela coreografia “um pra lá, dois pra cá” para as fãs ensandecidas, que retribuem em coro: “lindo, tesão, bonito e gostosão.”

Vamos para o sertanejo. Já escutei cada coisa. Ou a dupla sente por ter sido traída pela mulher amada ou cantam que no Rodeio de Peão só tem mulher, cerveja e…..peão! Realmente é muito complicado para a minha cabeça entender o que faz um ser humano normal, que trabalha de terno e gravata a semana inteira, prega os macetes do capitalismo, fala como se fosse presidente da República e ao chegar no fim de semana coloca uma bota, um chapéu com emblema de um cavalo, uma calça jeans mais apertada do que o salário mínimo e corre para um Rodeio, se comportando como se este ambiente fosse seu cotidiano e lógico, a eloquência de presidente dá lugar agora para a displicência gramatical de um peão de fazenda.

E o Funk Carioca, reflete bem a condição cultural que o país passa, tanto que o Jonathan da nova geração empina pipa, joga bola e espia as “popozudas” ao invés de estar recebendo educação correta para um dia tomar decisões que poderão mudar o destino da nação! Por que não?

A mídia te condiciona a isto caro leitor, tome cuidado.

Só para citar o poder que uma letra tem, um dia destes eu estava a conversar com um amigo que após alguns anos tinha descoberto que “fruta de vez temporana” (célebre frase de uma música de Alceu Valença) nada mais era do que uma fruta sazonal, que só dá no verão, por exemplo. Uma fraseado de Alceu fez com que uma pessoa tivesse um momento único na vida, fantástico!!!

Este mesmo amigo também questionou a intenção dos Raimundos ao escrever a música “Selim”, na qual a banda deseja ser um banquinho de uma bicicleta só para ver a musa produzir material biológico que indica que o corpo já fez demasiado esforço físico, tem coisa mais sem nexo? Ou até mesmo o outro Raimundo, o Fagner, que deseja ser um peixe, mergulhar no aquário da musa para fazer borbulhas de amor e encantá-la.

Portanto, justifico o título desta materia, desisti de acompanhar de perto a música letrada feita por ai, porque, ela além de envergonhar o bom gosto musical, desrespeita a essência de toda obra harmônica e melódica por mais simples que ela seja.

Bem, sei que existem muitos aspirantes a artistas que estão lendo essa matéria e digo que elaborem bem sua obra musical e não se vendam aos modismos momentâneos desta cultura que está cada vez mais pobre e decadente.

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